MATERNIDADE REGISTRA DUAS MORTES DE BEBÊS EM MENOS DE 48 HORAS

10/05/2017 - 09:52

Mais uma morte foi registrada na Maternidade Santa Isabel em Bauru nesta semana. Foram dois casos em menos de 48 horas. Um bebê morreu no domingo (7) porque, segundo a família da grávida, o hospital teria induzido parto normal apesar do pedido médico para cesárea. Na madrugada desta terça-feira (9), um bebê nasceu com o cordão umbilical enrolado no pescoço e ficou algumas horas na UTI, mas não resistiu. A família da criança reclama da conduta do hospital.

O pai não quis se identificar, mas conta que na quinta-feira (4), a esposa procurou a maternidade porque já estava com 40 semanas de gravidez e sentindo dores. Ela recebeu uma medicação e foi orientada a voltar para casa. Na segunda-feira (8) à tarde, novamente com dores, voltou ao hospital.

“Ela já tinha pedido para o doutor fazer cesárea. O doutor falou que não precisava porque era normal nascer normal. Ainda até a doutora falou: Mãe: seu filho vai escorregar hoje. E ela falou, não eu quero cesárea. Queria dar quatro remédios para dar dilatação na minha mulher.”
 
O pai contou ainda que depois de muita insistência, resolveram fazer a cesariana. O bebê teria nascido vivo, mas com o cordão umbilical enrolado no pescoço. Ainda segundo ele, a criança foi levada para UTI.
 
“Eles levaram para o quarto e chamaram a incubadora, colocaram na incubadora e levaram para a UTI. Nisso eu fiquei sentado na frente da UTI e escutei a máquina parando, mas como tem um monte de nenê, eu não pensei que era o meu. Mas a hora que a médica saiu e falou: Pai vem cá. Eu já comecei e chorar.”
 
Em nota, a Diretoria da Maternidade Santa Isabel disse que seguiu todos os protocolos de atendimento com a gestante que perdeu o bebê, ou seja, ela foi examinada, medicada e a saúde da criança verificada. Na segunda-feira, em nova consulta, ela foi novamente atendida e encaminhada para fazer uma cesárea. A criança teria nascido com baixo movimento respiratório e levada para UTI Neonatal, mas piorou e acabou morrendo.
 
A criança foi encaminhada para o IML para verificar possível malformação.
 
De acordo com a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo, casos de bebês que nascem com o cordão umbilical enrolado em partes do corpo são comuns e pode acontecer no pescoço, nos braços, nas pernas. Essa situação está presente em 44% dos partos e, na maioria das vezes, acontece durante o trabalho de parto. Por isso, nem sempre é possível descobrir esse risco por meio do exame de ultrassom, já que a situação pode mudar de uma hora para outra, principalmente durante o parto.
 
Normalmente, casos como estes são prevenidos por meio do monitoramento constante dos batimentos cardíacos do bebê quando a gestante é internada. A Sogesp só deixa claro que o fato de ter o cordão umbilical enrolado em qualquer parte do corpo não aumenta as chances de morte do bebê.
 
Aumento de casos
 
Este é o segundo bebê que morre em menos de 48 horas na Maternidade Santa Isabel. No domingo, Caroline Kelly Rodrigues, de 18 anos, também perdeu o filho. A criança nasceu morta de parto normal. A família alega erro no atendimento prestado à jovem, que esteve com por duas vezes na unidade, mas foi orientada a voltar para casa depois de receber remédio para dor.
 
Um boletim de ocorrência foi registrado contra a maternidade. Ele se junta ao feito pelos parentes de Silvânia Muniz, que morreu no mês passado depois de dar à luz. Silvânia era hipertensa e, segundo a família, precisava de uma cesárea. A cirurgia, no entanto, demorou para ser feita. A criança sobreviveu.
 
Os inquéritos dos casos da Silvania e da Caroline já foram instaurados e agora serão investigados pela Delegacia de Defesa da Mulher. A delegada Priscila Biachini, responsável pelo caso, vai ouvir as famílias, equipes médicas e a direção da Maternidade Santa Isabel. “Aqui nós vamos apurar o crime, que seria a lesão culposa, homicídio culposo, injúria. Mas também existe o dano moral”, explica a delegada.
 
Segundo DataSus, o número de mortes na maternidade de Bauru aumentou em comparação com o ano em que foram registradas 33 mortes de bebês de 0 a 28 dias durante todo o ano. No 1º trimestre de 2016 foram 9 mortes, em 2017 foram 11, aumento de 22%.
 
Cumprimento de metas
 
Um ofício emitido em 2015 pela maternidade ordena a redução do número de cesarianas, principalmente no caso de mulheres de primeira gestação. O documento também deixa expresso que o não-cumprimento da meta poderá implicar prejuízos financeiros ao hospital e, consequentemente, aos médicos. A Famesp, fundação que administra a maternidade, explica que a intenção é evitar que se façam cesáreas desnecessárias.
 
“A questão financeira não existe. A questão do parto normal é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde para que se reduza as cesarianas desnecessárias. Toda literatura, o parto normal é mais seguro para a gestante e para o bebê”, diz o diretor da maternidade Fabiano Milan de Freitas.
 
Uma resolução do Conselho Federal de Medicina, publicado no ano passado, prevê que a partir da 39ª semana de gestação, a mãe tem o direito de escolher o tipo de parto. A prerrogativa faz parte do processo que a Patrícia Fernandes Leite move na justiça contra a maternidade. No ano passado, ela também perdeu o bebê depois de um parto normal induzido.
 
“Me internei e perguntei se não tinha a opção de fazer uma cesárea e o médico me orientou que o procedimento do hospital era fazer a indução. Diante dessa informação, a gente aceitou. Ele falou que ia ficar tudo bem e eu perdi a minha filha”, conta.
Sobre essa questão da via de parto, a Secretaria de Estado da Saúde esclareceu, em nota, “que não existe orientação por parte da pasta para “aumento” de partos normais ou “redução de custos” nos procedimentos.” Ainda de acordo com a nota, “conforme protocolos consagrados de assistência obstétrica, como diretrizes do Ministério da Saúde e recomendações da Organização Mundial da Saúde, a modalidade de parto cesárea deve ser utilizada em casos de risco para a mãe, feto ou ambos.”
 
O texto informa ainda que “a decisão clínica sobre a melhor conduta, seja parto normal ou cesárea, é tomada de acordo com cada situação específica e característica de cada gestante e gestação, mediante avaliação da equipe médica responsável. Não há, portanto, nenhuma relação entre o incentivo ao parto normal como prática principal da Maternidade Santa Isabel, mas sim, uma cuidado para prestar o atendimento adequado para cada caso conforme as recomendações e parâmetros já citados que podem ser consultados no relatório de diretrizes da cesariana, disponível na internet”, finaliza.
 
 
G1 BAURU E MARÍLIA.

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