PROFESSOR DA UNESP DE BAURU SOFRE RACISMO E É AGREDIDO NO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

21/11/2019 - 11:43

Em pleno Dia da Consciência Negra, o professor da Unesp de Bauru Juarez Tadeu de Paula Xavier, 60 anos, foi agredido com golpes de canivete e denunciou ter sido vítima de injúria racial. Segundo o docente, ele foi chamado de 'macaco' por um desconhecido e, ao reagir, foi golpeado no braço esquerdo e nas costas, na altura do ombro direito. Felizmente, as lesões não foram graves.

A família do agressor, V.S.M. (apenas as iniciais do nome foram divulgadas pela polícia), 30 anos, apresentou atestado à Polícia Civil para demonstrar que ele tem diagnóstico de esquizofrenia. O caso foi registrado como injúria racial e lesão corporal dolosa. O delegado plantonista arbitrou fiança de um salário mínimo para que o acusado responda a inquérito em liberdade. Como o valor foi pago, ele foi liberado e responderá pelo delito em liberdade.
 
Quando foi detido, V. relatou à Polícia Militar que, ao se deparar com Juarez, o reconheceu como sendo membro de uma ordem denominada Lobo Solitário e que integrantes desta organização o estariam perseguindo.
 
Surpreso com a informação, o professor disse não ter conhecimento da existência de tal seita. Já o autor dos golpes negou ter direcionado ao docente ofensas racistas.
 
A ocorrência foi registrada por volta das 15h30 desta quarta (20), quando o professor retornava a pé, sozinho, de um consultório médico. "Eu vi, de longe, que este desconhecido apontava algo na minha direção. Quando ele passou por mim, me chamou de macaco e fui atrás para questioná-lo sobre o que ele tinha dito. Fiquei bravo, porque é algo inadmissível".
 
Juarez abordou o homem no estacionamento de um estabelecimento comercial e, durante a discussão, foi golpeado por duas vezes. Já ferido, ele tentava imobilizar V., quando um cliente da loja e um segurança chegaram para, finalmente, desarmar e deter o homem. "Estou perplexo. Jamais imaginei que fosse passar por uma situação desta em Bauru. Foi algo absurdo, gratuito e absolutamente desnecessário. Se eu não fosse capoeirista e não tivesse recebido ajuda, poderia não estar mais aqui", lamenta.
 
TESTEMUNHA
 
O empresário Felipe Azevedo, 29 anos, cliente do estabelecimento e que ajudou a conter a agressão, confirmou ao JC ter ouvido o homem proferir ofensas racistas contra Juarez. "Mesmo no meio do confronto físico, ele continuava chamando o professor de 'macaco'. Não foi uma vez só", detalha.
 
Com o reforço de seguranças do local, V. foi detido e, com a chegada da PM, encaminhado ao Plantão da Polícia Civil.
 
Já Juarez foi levado à UPA do Núcleo Geisel, onde os ferimentos foram suturados. Foram dois pontos no braço e três nas costas. O docente teve, ainda, escoriações nos joelhos.
 
Vale destacar que, conforme o entendimento jurídico, para a injúria racial, ofensa proferida a determinada pessoa por conta da raça, cabe fiança. Já o crime de racismo, inafiançável e imprescritível, é configurado quando há um ato de discriminação por conta da raça. Ações como impedir o acesso de negros a determinados estabelecimentos ou negar empregos por conta da cor da pele, por exemplo, são consideradas racismo.
 
Professor já tinha sido alvo de ofensa em 2015
 
Professor do curso de jornalismo da Unesp, Juarez Xavier já havia sido alvo de ataques em 2015. No dia 24 de julho daquele ano, inscrições racistas foram encontradas em paredes e portas de dois banheiros próximos ao departamento de Comunicação Social da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (Faac) da Unesp.
 
Entre as frases que chocaram alunos e docentes do câmpus, estavam “Unesp cheia de macacos fedidos”, “Negras fedem” e “Juarez Macaco”. Segundo o docente, a sequência de ofensas não o amedronta.
 
“Precisamos continuar falando sobre racismo, que marca a sociedade brasileira de uma forma brutal. Como militante de defesa dos direitos humanos e da luta antirracista, não irei recuar. Temos um longo caminho a seguir e vou continuar atuando na universidade e na sociedade”, completa.
 
JCNET.
Foto: Vinicius Bomfim.

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