SENADO PODE DEFINIR NESTA QUARTA-FEIRA O FUTURO DE DILMA

11/05/2016 - 09:05

O Senado Federal deverá abrir o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, afastando-a do cargo, em sessão prevista para começar na manhã desta quarta-feira (11), às 9h. A decisão precisa do voto da maioria simples dos presentes, e tanto o placar apurado pela reportagem quanto as contas de governo e oposição apontam para o resultado. O afastamento tem prazo máximo de 180 dias, mas a previsão é que o Senado julgue-a pelas pedaladas fiscais e créditos orçamentários sem autorização antes disso (veja quadro abaixo).

 
O vice Michel Temer (PMDB) assume assim que for notificado da decisão. Seus aliados pressionam pela saída do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), visto como não confiável para o encaminhamento de sua agenda congressual e que tentou sem sucesso anular a votação do impeachment pela Câmara, em uma canetada apoiada pelo Planalto. O governo tentava até a noite dessa terça-feira (10) impedir a sessão, com a apresentação de um recurso ao Supremo Tribunal Federal.
 
Dilma deve ser a segunda presidente afastada para ser julgada politicamente pela acusação de crime de responsabilidade desde a redemocratização, repetindo Fernando Collor em 1992 - o hoje senador pelo PTC-AL, até aqui seu aliado, vota hoje.
 
Apoiadores do governo fizeram atos em algumas capitais e prometem mais protestos nesta quarta.
 
DERROTA
 
Diante de um cenário previsível de derrota, a base do governo trabalha, numa conta otimista, para tentar chegar a 30 votos dos 81 senadores contra o processo de impeachment de Dilma, enquanto a oposição trabalha com até 57 por sua abertura.
 
Basta maioria simples dos presentes para que Dilma seja afastada por até 180 dias e julgada por crime de responsabilidade. Nas últimas 24 horas, senadores próximos ao Planalto não acreditavam em surpresa, ao contrário da votação na Câmara, em que havia na véspera esperança em salvar Dilma.
 
Levantamento feito pela reportagem aponta que pelo menos 50 pretendem se manifestar pela admissibilidade. Além de afastar a presidente, o placar de hoje vai indicar a tendência para a fase final do processo, que exige 54 votos para que ela seja condenada e deixe o cargo definitivamente.
 
A própria presidente já declarou que são remotas as chances de retornar ao posto. “Se eu perder, estou fora do baralho”, disse, em recente entrevista no Planalto. Aliados da petista no Senado consideram que só uma catástrofe política e econômica de um governo de Michel Temer seria capaz de mudar o quadro no Senado e abrir espaço para uma volta dela.
 
A sessão deve começar às 9h. Cerca de 65 senadores devem discursar, além do relator do processo, Antonio Anastasia (PSDB-MG), e do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo.
 
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), quer realizar a votação por painel eletrônico às 19h, mas se espera atraso por causa de discursos e questionamentos.
 
Se a votação for concluída na noite desta quarta-feira (11), Dilma deve ser notificada na manhã de quinta-feira (12), quando então automaticamente se afasta.
 
A petista é acusada de editar decretos de créditos suplementares sem aval do Congresso e de usar verba de bancos federais em programas do Tesouro, as chamadas “pedaladas fiscais”. Sua defesa entende que não há elementos para o afastamento.
 
‘Não estou cansada de lutar, mas sim dos desleais e dos traidores, diz Dilma
 
Dilma Rousseff subiu ao palco pontualmente às 16h40 dessa terça-feira (10). A abertura da 4.ª Conferência Nacional de Política para as Mulheres, em Brasília, poderia ser seu último evento público como presidente da República.
 
Cercada por auxiliares e assessores, Dilma chegou ao centro de convenções Ulysses Guimarães sorrindo e subiu ao palco em que mais de 70 pessoas formavam sua claque de apoio. Diante da plateia de mulheres simpatizantes a seu governo, acenava e agradecia aos gritos de “não vai ter golpe, vai ter luta” e “fica, querida”.
 
Geralmente com pouca paciência para as delongas desse tipo de evento, Dilma pareceu mais à vontade para inovar e, de braços dados com ministros e lideranças de movimentos de mulheres, cantar o hino nacional à capela. Logo em seguida, porém, voltou a sua habitual nominata e saudou quase todas as autoridades presentes. O que durou quase dez minutos.
 
Dilma usou seu discurso para dizer que “não está cansada de lutar”, mas sim “cansada dos desleais e traidores” e que seu processo de impeachment “tem base no preconceito e na violência contra a mulher”. “Sabemos que um dos componentes desse processo tem base no fato de eu ser a primeira presidenta eleita pelo voto popular. E quero dizer que uma parte muito importante da minha capacidade de resistir decorre do fato de eu ser mulher”, completou Dilma. Mesmo com a fala otimista, Dilma já admitiu a aliados que seu afastamento provisório é “inevitável”.
 
Limpando as gavetas
 
A dois dias de ser afastada do cargo, a presidente Dilma já limpou a mesa e as prateleiras do seu gabinete no terceiro andar do Palácio do Planalto, em um sinal claro de que seu governo já se prepara para deixar o poder, assim que for notificada oficialmente pelo Senado.
 
Em uma de suas últimas audiências como presidente, nessa terça-feira (10), a presidente recebeu o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, em uma sala já sem objetos pessoais e uma mesa vazia. Seguranças da Presidência tentavam evitar que os fotógrafos, chamados para registrar o encontro, vissem os sinais da saída iminente de Dilma do Planalto. Por outro lado, Dilma ainda avalia se faz um pronunciamento hoje.
 
jcnet

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