'TARDEZINHA', DE THIAGUINHO, É PÁLIDA 'AQUARELA' DO PAGODE DOS ANOS 1990

16/01/2017 - 09:56

Bem que Thiaguinho tentou sair da roda limitada do pagode em discos anteriores, investindo em músicas compostas e gravadas com influência da soul music e do R&B norte-americanos. Só que a associação do cantor paulista com o pagode é forte, até porque Thiaguinho foi projetado em escala nacional, a partir de 2003, como vocalista do grupo Exaltasamba. Álbum ao vivo que está nas plataformas digitais pela gravadora Som Livre a partir de hoje, 13 de janeiro de 2017, Tardezinha enquadra o cantor no círculo do pagode mais trivial.

Trata-se do registro ao vivo de Tardezinha, a roda de pagode armada por Thiaguinho primeiramente em São Paulo (SP) e, depois, em outras cidades do Brasil. Em tom uniforme, o cantor dá voz a 18 músicas distribuídas em 10 faixas (sete são pot-pourris). Há duas incursões burocráticas pelo universo do samba e da MPB. Thiaguinho revive o samba Flor de lis (Djavan, 1976) como se fosse cantor de barzinho e envolve Papel machê (João Bosco, 1974) no clima de pagode de arranjo que dilui todo o sentido e beleza da canção de João Bosco em gravação constrangedora.

Contudo, Tardezinha alinha essencialmente hits do pagode da década de 1990, abrindo com pot-pourri que junta Maravilha de amar (Aldino, 1997) – sucesso do grupo Os Travessos – com Me faz feliz (Thiaguinho, Carica e Rick Batera, 2005). A seleção não é das melhores, mas tem acertos. O que torna o disco insosso é a já mencionada linearidade das interpretações e dos arranjos, evidente da primeira à última das dez faixas.

O pot-pourri que agrega Tempo de aprender (Chiquinho dos Santos, 1999) e Tô te filmando (Sorria) (Arnaldo Saccomani e Thais Nascimento, 2000) – sucessos dos grupo Soweto e Os Travessos, respectivamente – tem, por exemplo, o mesmo tom genérico do pot-pourri que reúne Absoluta (Altay Veloso, 1995) e É tarde demais (Luiz Carlos e Elias Muniz, 1995), sucessos lançados no mesmo ano de 1995 pelos grupos de pagode Negritude Jr. e Raça Negra, respectivamente. A propósito, Absoluta e É tarde demais são pagodes acima da média do gênero na década de 1990. Se soam iguais em Tardezinha, é porque são esmaecidas as cores desta aquarela do pagode pintada por Thiaguinho, que, embora até cante bem, não é nenhum Emílio Santiago (1946 – 2013), mestre das aquarelas no reino da MPB.

Fonte: G1 

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