Herança de palanque

14/09/2012 - 11:03

Alexandre Garcia

O ex-presidente Fernando Henrique, em artigo n’O Globo, escreveu que a presidente Dilma recebeu “uma herança pesada de seu antecessor”. Não citou o nome de Lula e preferiu não usar o termo com que Lula criticava o legado recebido: “herança maldita”. FHC escreveu que o pior da herança é a crise moral. De oito ministros que saíram do governo, sete caíram fora por denúncias de corrupção. FHC lembrou que não foram exatamente nomeação de Dilma, mas imposição de composições eleitorais engendradas por Lula. E o mensalão, que o Supremo está demonstrando não ser de caixa 2 eleitoral, mas desvio de dinheiro do público. No dia seguinte, a presidente respondeu por nota oficial: "Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão" Mais adiante, admite: “O passado deve servir de lição, não de ressentimento.”

- Passou recibo! - Poderia se dizer. Os que não leram o artigo agora vão querer saber o que, nele, é tão importante que motivou uma nota oficial da Presidência da República. A resposta que chama mais atenção que o artigo, e acrescenta mais 24 horas na discussão do assunto, pode ter sido um erro político. O mesmo que cometeu a oposição, quando só falava em Lula, fazendo-o ainda mais popular. Mas e se Dilma tivesse calado, talvez entendessem isso como consentimento às opiniões de FHC. A resposta, no fundo, foi para dizer a Lula, publicamente, que não é nada daquilo, que Lula é um estadista que deixou uma herança bendita para a sucessora, como diz a nota da Presidência. 

Deixando de lado FHC e seu troco para a “herança maldita” de anos atrás, é preciso reconhecer que Dilma está a pagar contas que não são dela, embora possa se alegar que ela foi uma peça importante do governo anterior. Ela está pagando, sobretudo, o mau desempenho da economia. Lula menosprezou a crise mundial, a “marolinha”, e mandou que os brasileiros consumissem, isto é, gastassem. E como a dar exemplo, botou o governo a gastar. Não em investimento, mas em despesas correntes. A preparação para resistir à crise seria, ao contrário, cortar gastos públicos correntes, ter cautela com o endividamento e fortalecer a infraestrutura.

Nosso PIB cresceu pouco e já caímos de sexto lugar para sétimo em tamanho da economia.  Em crescimento, estamos em 23º - e aí é de se perguntar: por que o Chile, tão sul-americano quanto o Brasil, é o terceiro crescimento do PIB, com uma taxa parecida com a da China?  A ironia, por aqui, é que o setor mais atacado pelo MST e pelos eco-chatos, a agropecuária, é que está sustentando o que resta do nosso PIB, porque a indústria caiu 2,5%. Da produção total do país, 67% vem da bendita agropecuária, a despeito de todos os entraves para o setor. E a presidente que recebeu essa herança tem que conviver com um avanço de apenas 2% do PIB em 18 meses de governo. Ela tirou a administração partidária na Petrobrás e depois disso se descobriu que a estatal era movida por palanques. Mas é a realidade que pode repor a Petrobras no lugar que merece. Como a Petrobrás, o Brasil real vinha sendo camuflado por arroubos de comício. Essa herança se percebe que Dilma não aceitou receber.

 

 

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