OS TEMPOS MUDARAM, MAS ROBERTA MIRANDA É A MESMA EM DVD COM SERTANEJAS

27/06/2017 - 09:09

Os tempos eram bem mais machistas no universo sertanejo quando a paraibana Roberta Miranda desbravou terreno até então basicamente masculino como cantora e compositora a partir da gravação, em 1985, da bela canção autoral A majestade o sabiá, lançada na voz de Jair Rodrigues (1939 – 2014) com participação da dupla Chitãozinho & Xororó. Decorridos mais de 30 anos, os tempos mudaram e Roberta ainda corre para pegar um lugar no presente do mercado sertanejo.

 
Cantora que vendeu milhões de álbuns na segunda metade da década de 1980, Roberta é vista como legítima pioneira pela geração feminina que despontou com força no universo sertanejo a partir de 2015. As principais representantes dessa nova geração marcam reverentes presenças na gravação ao vivo de show ora editada em CD e DVD estrategicamente intitulados Os tempos mudaram (Sony Music).
 
"Hoje a moda é outra / ... / A mulher é independente", rascunha Roberta em versos da inédita música-título Os tempos mudaram, gravada com a cantora e compositora goiana Marília Mendonça. À frente de imagens que projetam cenários de arquitetura medieval, Roberta recebe as convidadas para rebobinar sucessos da fase áurea no show captado em março deste ano de 2017 em apresentação hi-tech da artista no Espaço das Américas, na cidade de São Paulo (SP).
 
Laércio da Costa assina a produção musical, erguida sob a direção da própria Roberta. Entre músicas de clima forrozeiro como a inédita Manda um beijo para ela (Roberta Miranda, 2017) e Meu dengo (Roberta Miranda, 1986), este um hit do primeiro álbum revivido com vivacidade por Roberta em dueto com a ex-Aviões do Forró Solange Almeida, a cantora dá nova voz a sucessos que já batiam na tecla da sofrência. Mesmo sem a atitude altiva que caracteriza o repertório das mulheres do sertanejo, um bolerão kitsch como Dói (Roberta Miranda e José Miranda, 1989) cai bem na gravação feita com a adesão da cantora Naiara Azevedo. Música que alavancou a carreira e as vendas milionárias do primeiro álbum de Roberta, São tantas coisas (Roberta Miranda, 1986) é revitalizada com a dupla Simone & Simaria.
 
Amplificada na interpretação coletiva do sucesso seminal A majestade o sabiá, alocada no fecho do DVD, a louvação das novas cantoras à antiga empoderada do universo sertanejo soa sincera, mas o DVD falha na tentativa de atualizar o som e a obra da artista. O que, no caso, acaba sendo um fator positivo. Se tentasse clonar o som e o estilo de cantoras como Marília Mendonça, Roberta correria o risco de soar modernosa, desajustada – o que já aconteceu há 20 anos quando, em fase de menor projeção, Roberta migrou para a PolyGram, gravadora que tentou (em vão) repaginar a imagem da cantora para transformá-la em espécie de Shania Twain tupiniquim no álbum A mulher em mim (1997), lançado em época em que Shania dava as cartas no mercado norte-americano de country music.
 
Felizmente, em Os tempos mudaram, Roberta se mostra fiel a si mesma na seleção do repertório e na elaboração dos arranjos. São as convidadas como Maiara & Maraísa – dupla que entra em cena no revival de Vá com Deus (Roberta Miranda, 1987), carro-chefe do segundo e mais bem-sucedido álbum de Roberta, lançado há 30 anos – que entram no universo da anfitriã.
 
Mesmo nas músicas inéditas, como Canalha encantador (Roberta Miranda), dá para reconhecer a assinatura pessoal e intransferível da compositora. Sim, os tempos mudaram, o sertanejo é o novo pop brasileiro em escala massiva, mas Roberta Miranda ainda é essencialmente a mesma, para o bem e para o mal. 
 
Fonte: G1 

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